Resenha - Persuasão, Jane Austen

     Anne Elliot é a filha do meio de um baronete que se importa mais com o título e com a própria aparência do que com a felicidade da filha. Por ser muito diferente do pai e de Elizabeth, sua irmã mais velha, ela foi praticamente ignorada desde a morte de sua mãe. Quando era bem jovem, Anne se apaixonou pelo aventureiro capitão Wentworth, mas foi aconselhada por uma amiga da família a desistir do compromisso.

     Anos depois, quando a família está prestes a se mudar Anne é surpreendida ao se ver obrigada a conviver novamente com seu antigo amor. Ela estava passando uma temporada na casa de sua irmã Mary e por uma série de coincidências acaba tendo que acompanhar a escolha de uma noiva pelo sr. Wentworth.

     Persuasão foi o último romance publicado em vida pela Jane Austen e para quem leu os outros provavelmente percebeu como a escrita dela evoluiu com o passar dos livros, sem perder o estilo inconfundível. A história da Anne não é nem de longe tão conhecida quanto a da Lizzie de Orgulho e Preconceito, mas esse é um livro que eu indico para todos pela delicadeza da história.

"A máxima delicadeza de Jane Austen"

     Anne é dona de uma personalidade meiga, bondosa e sensata, na maioria das vezes ela prioriza a vontade de quem está a sua volta, o que fez com que sofresse por anos por um cavalheiro que pensou que jamais veria novamente. Não escrevo isso como um defeito da personagem, na época as mulheres não tinham muita voz e ela aceitou um conselho de uma amiga imaginando que, com mais experiência de vida, Lady Russel saberia a forma certa para se agir.

     Frederick Wentworth também é um personagem muito bem escrito e não há como não suspirar pela história e pela forma de agir dele... Sem saber de tudo que aconteceu, ele imagina que Anne o rejeitou e mesmo assim não tenta humilhá-la ou é rude de alguma forma. Ele apenas quer seguir com a vida, depois de conseguir uma fortuna respeitável com a marinha decidiu se casar e vê em uma das irmãs do cunhado de Anne uma perfeita candidata.

     Eu sei que algumas vezes fazer comparações entre livros do mesmo autor não dá muito certo, mas não há como ler outra obra da Jane sem compará-la com Orgulho e Preconceito, então vou tentar fazer um paralelo básico entre eles, que são meus dois queridinhos da autora. A principal diferença está nas mocinhas, enquanto Lizzie se baseia na razão e tenta criar sua próprias opiniões sobre tudo, Anne é mais delicada, e dá grande importância para a opinião de todos, ela também é mais reservada. Pelas protagonistas já se vê uma grande diferença, no geral Persuasão é um livro mais sentimental.

     As críticas sociais não são o foco principal do livro, mesmo que o motivo para a separação do casal tenha sido falta de bens do capitão Wentworth, o livro fala bestante da situação da mulher na sociedade, inclusive com uma personagem que aparece mais no meio do enredo e que faz bastante diferença na vida da Anne. Persuasão também conta com a ironia tradicional da autora, tanto nos diálogos quanto na construção do enredo.

A minha edição é uma da Editora Martin Claret que tem Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito além de Persuasão, mas o livro pode ser encontrado em várias edições traduzidas, inclusive algumas lindas de luxo. Quanto a que eu tenho, as páginas são brancas, o que deixa a leitura um pouco cansativa, mas a tradução é muito boa. Indico persuasão para todos que gostam de romances, inclusive quem ainda não se aventurou pelos mais antigos.