Resenha - Belleville, Felipe Colbert

     Quando Lucius chega a Campos do Jordão para cursar a universidade, ele não imaginava que tantas surpresas o aguardavam. A começar pelo antigo casarão onde vai morar que além dos canos barulhentos tem no quintal o início de uma construção bem estranha. Depois de uma série de coincidências, o rapaz encontra uma carta com data de 50 anos antes. Na carta, um pedido de uma garota, Anabelle, para que o futuro morador terminasse a construção de uma montanha-russa, Belleville.

     Sem ter como atender ao pedido, ele decide responder a carta que de alguma forma chega às mãos de Anabelle. Os dois mesmo sem entender o que está acontecendo, iniciam uma intensa comunicação. A relação começa com desconfiança, afinal, como poderiam duas pessoas separadas por 50 anos se comunicarem, evolui para a amizade e daí para uma paixão avassaladora.

     Dois jovens e duas épocas ligados pelas palavras e por um sonho...

"Tinha algo a ver com pensar que a Via Láctea é pequena demais para acharmos que estamos tão longe assim um do outro, e que uma simples reta imaginária me ligava a ela, não importa onde ela estivesse."

     Essa é minha primeira resenha para a maratona setembro nacional e posso afirmar que já comecei bem!

     Belleville é um romance com toques de fantasia que tem tudo para agradar mesmo os leitores mais exigentes. A história gira em torno de Lucius e Anabelle, dois jovens com vidas bem diferentes que de uma forma bastante incomum acabam se apaixonando. Ela vive na década de 60 e passa por uma situação complicada depois da morte dos pais, enquanto ele está em 2014, iniciando a faculdade de matemática.

     Os protagonistas foram muito bem construídos e conseguem fugir dos padrões, sem deixar de serem cativantes. Lucius é o típico nerd, logo no início das aulas começa a ser importunado por alguns alunos e tem dificuldade para fazer amizades. Quando descobre a carta de Anabelle logo decide que seria impossível terminar de construir Belleville, mas os dias passam e eles continuam trocando cartas, fazendo com que sua afeição pela garota cresça e ele decida ajudá-la.

     Anabelle vive sozinha no casarão, uma situação complicada para uma jovem em 1964. As poucas economias que o pai deixou estão acabando e ela nunca trabalhou, nem sabe o que vai fazer no futuro, sua única companhia é o gato Tião. Por falta de opção ela decide escrever uma carta para que alguém no futuro possa ajudar a realizar o sonho do seu pai e fica muito surpresa quando recebe uma resposta para seu pedido.

     No início, até Lucius encontrar a primeira carta de Anabelle, a leitura é mais lenta, mas depois que isso acontece eu não conseguia largar o livro para nada! A história é tão envolvente que logo depois das primeiras cartas eu já imaginei várias teorias sobre o que poderia acontecer e como sempre não acertei quase nenhuma...

"Mas também sabia que havia dado a oportunidade de mais alguns muros transparentes se levantarem ao meu redor, desta vez muros bem altos - e eu não poderia reclamar depois."

     Mesmo que o livro tenha um estilo “fofo” o autor não deixou de colocar temas mais complicados na história, principalmente envolvendo Anabelle. Ela passa por momentos bem tristes e algumas vezes eu cheguei a me emocionar com sua situação. Mesmo assim a garota não desiste do sonho que era do pai e passa a ser dela de ver Belleville pronta.

     O único ponto que poderia ser um pouco mais trabalhado foram os personagens secundários. Mesmo os que foram importantes na história não tinham uma personalidade bem definida que poderia torná-los mais marcantes.

     Só tenho elogios sobre a narrativa, os capítulos intercalados entre Lucius e Anabelle foram ótimos para entender o que se passava com cada um deles e por serem em primeira pessoa fizeram com que eu me sentisse bem próxima dos protagonistas. Além disso, ele conseguiu colocar expressões, especialmente nos capítulos da Anabelle, que não deixavam esquecer em que época ela estava.

"De todos os lugares do mundo, havia apenas um que eu queria visitar agora. Chances de a minha ida até lá ser em vão? Com certeza muitas. Mas é como dizem: não faça da sua vida um rascunho, ou poderá não ter tempo de passá-lo a limpo"

     O enredo em si tem tudo para prender diversos tipos de leitores, sejam os fãs de romance, de fantasia ou os que gostam de um pouco de drama. Felipe Colbert tem uma narrativa fluida que consegue, além de prender o leitor, o transportar para o universo que ele criou.

     Sobre a diagramação, eu só tenho elogios para a Editora Novo Conceito por causa dessa capa linda e que tem tudo a ver com a história! A diagramação é mais simples, mas não deixa de ser boa com suas páginas amareladas e fonte bem confortável para a leitura.

     Enfim, leitura mais que recomendada!